bela tarde ensolarada de final de junho peguei minha câmera e saí pela cidade.
Pretendia registrar algo que não fosse visível aos olhos, mas ao coração.
Pensei, então, no silêncio.
ávida pelas ruas. A intuição e a câmera eram minha companhia.
As luzes se acendiam lentamente. Nada de silêncio. Ele parecia se esconder de
mim, por detrás das lentes. Angustiava-me não encontrá-lo. Era uma ideia fixa
em mim. Eis que vejo então um grupo de pessoas correndo na praça. Gente gorda,
obesa, velhos, jovens, mulheres, senhoras. Fotografei a persistência.
procurando. Mais adiante me deparo com um casal empurrando um carrinho com um
bebê lindo e sorridente. Fotografei a fragilidade.
frente, ainda ansiosa por encontrar novidades, avistei várias pessoas estiradas
ao chão fazendo relaxamento e meditação. Registrei o equilíbrio.
então, por uma rua estreita e calma e bem à minha frente surge uma jovem bela e
sorridente tendo à mão uma linda rosa da qual pude sentir o perfume. Fotografei
o perfume.
radiante. Sentia-me mais animada na minha incansável busca. Então eis que surge
um motociclista pilotando uma moto barulhenta, que espalhava pânico nas
fisionomias. Seguia em alta velocidade a chamar a atenção de todos que ali
passavam. Registrei a ignorância.
mais um pouco e dou de encontro com uns jovens rindo, comendo e jogando coisas
ao chão: papéis, embalagens e restos de alimentos. Registrei a indiferença.
por um instante e segui uma penumbra que dava numa rua sombria. Deparo-me num
quarto de hospital onde dou de encontro com um velho moribundo no leito de
morte rodeado de enfermeiras, médicos e cuidadores que lhe davam remédios, de
comer na boca, quase fechada, limpavam seus lábios ressequidos, o suor de seu
rosto. Respirava bem fraquinho. Vi carinho e dedicação naquelas atitudes. Por
trás de uma cortina clara registrei o desprendimento.
Sem ser
vista, apressei-me em procurar mais elementos que me mostrassem onde encontrar
o que buscava. Olhei para minha esquerda. Estava de frente para uma casa alta,
um sobrado. Vi luzes acesas, vozes e risos. A janela estava entreaberta.
Parecia festa. Parei e ouvi: cantavam parabéns e pude perceber que é para um
jovem senhor que aparentava uns 53 anos. Quando parou a música, eis que ele
aparece à janela com algo na mão, era colorido e brilhava. Podia ver o brilho. Pensei
comigo: – deve ser a pessoa que celebra entre familiares e amigos, mais um ano
de vida. Então ele sem saber que tinha alguém por ali, enfiou a mão direita
dentro do recipiente reluzente e atirou fagulhas brilhantes de pedrinhas que se
espalharam cá embaixo pelo chão. Abaixei-me para ver bem de perto. Ele se
afastou da janela, a música alegre continuou a tocar. Naquele instante
registrei a celebração da vida.
para casa melancólica e feliz. Encontro meus filhos e o pai, os três, cada qual
no seu canto em silêncio, sentados, cada um, à estudar. O mais novo lia. Paro.
Havia encontrado algo inédito: a paz. Dei um clique nela.
dormir. Abri a janela, deitei-me. Fazendo minha meditação, senti o vento fresco
que suavemente entrava e refrescava todo o meu ser. Não resisti. Peguei minha
câmera. Registrei a esperança…
de 2015) – Palmas, TO.