NO BALANÇO DO AVIÃO: O MENINO E A AVÓ


Nesse mesmo
voo sentaram ao meu lado um garoto e sua avó. O garoto devia ter no máximo dez
anos e sabia tudo sobre acidente aéreo. Tinha mais informação sobre o avião da
TAM que deslizou na pista de Congonhas do que aquelas emissoras sensacionalistas
que adoram tragédias.


A todo
instante ele perguntava se ela sabia quantos haviam morrido em acidentes
ocorridos em tudo quanto era lugar do mundo. O infeliz sabia a hora o lugar e o
motivo que gerou o acidente.

Essas
perguntas irritantes me levaram uma descoberta. Percebi que ela não as
respondia. Foi quando olhei para o lado e vi que ela segurava um terço e
tremulava os lábios como se estivesse conversando muito rápido com um ser
invisível.

Vi também
que com uma mão ela passava o dedo de bolinha em bolinha do rosário e com a
outra apertava algo que não consegui identificar.


Para piorar
sua situação o avião entrou numa área de turbulência. Enquanto todos atendiam
às ordens do comando o infeliz do menino fazia festa.

Toda vez que
o comandante desligava o sistema deixava o avião descer em queda livre, por
alguns segundos, e todo mundo se preparava para morrer, o infeliz do menino
gritava:

— Iê hôooou, Iê hôooou e nesse iê hôooou o avião seguiu até
aterrissar. Quando aterrissou senti curiosidade de ver o que estava naquela mão
tão apertada daquela senhora. Minha curiosidade não demorou muito para ser
atendida.

Quando o comandante feliz da vida, pelo que tinha acontecido durante a
viagem, anunciou que todos haviam sido liberados para descer. Ela deu um
suspiro tão aliviado de agradecimento que me senti comovido. Em seguida abriu a
mão… Confesso que me senti compadecido com a cena. Jesus Cristo saiu de
dentro daquela mão mais suado do que cuzcuz na feira. Nunca tinha visto Jesus
tão suado em toda minha vida. Ele transpirava tanto que o suor escorria.




Olhei pra ele, ele olhou pra mim e eu disse assim pra ele:
— Hoje foi duro amado mestre. Mas não liga não, na próxima vez vou fazer
esse moleque calar a boca nem que eu tenha que amarrar a boca desse infeliz.

Jesus todo suado só balançou… balançou e foi embora. E eu fiquei
morrendo de pena do meu amado mestre e com uma vontade do caralho de dá umas
boas palmadas naquele moleque ordinário.

Onde já se viu Jesus passar por tudo aquilo sem ter feito nada pra
ferir alguém.

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