NÃO CORRA RISCOS, SEJA SEDENTÁRIO 9: Uma Tal de Fernanda Keller


Não há nada tão humilhante para
o homem do que se sentir inferior a uma mulher na prática de exercícios
físicos.

Era meu terceiro dia de
infelicidade e já fazia mais de trinta minutos que estava naquele ambiente
hostil sem conseguir completar uma única volta. Claro que a culpa não era minha
e sim de quem mandou construir uma praça absurdamente grande. Imagine,
construir no Tocantins a segunda maior praça do mundo, pergunto pra quê? – A resposta
é simples, pra sacanear pessoas como eu que detestam fazer caminhada e que por
infelicidade do destino encontram uma médica masoquista que lhe obriga fazer
tal sacrifício justificando que é para seu próprio bem.



Mas, olhando por um espaço mais
amplo parece proposital: você cria um ambiente para que as pessoas caminhem e
consequentemente engordem e para que isso ocorra com mais rapidez você faz um
ambiente maior. Com isso Palmas entra duas vezes no livro dos recordes primeiro
pelo tamanho da praça e segundo pelas consequências que ela gera. Perde no
tamanho, mas ganha em números de gordos.

Isso não é brincadeira, é
constatação prática: quanto mais o sol está quente mais gordas, as pessoas que
praticam caminhadas, ficam.


Estava me sentido mal com aquela
situação, caminhando três horas da tarde com um policial me vigiando em cada
trajeto que havia de passar, quando passou correndo uma criatura que parecia ligada a um
motor de alta velocidade. Fingi que não tinha visto para que meu mal está não
piorasse. Só que de repente a mesma criatura passou tão rápido que sentir os
cabelos levantarem. Mais uma vez procurei tentar distorcer o que estava vendo.


Só pra humilhar na Blusa dela
estava escrito: Fernanda Keller, Triatleta brasileira. Quando alguém aqui for fazer
caminhada e se defrontar com essa criatura na frente não tente acompanhar é uma
coisa impressionante como ela corre! Enquanto estava me matando para completar uma volta ela
deu duas sorrindo.

Na terceira vez que ela iria me humilhar, decidi fingir que estava fazendo alongamento, para que pensassem que minha
lentidão vinha do fato de ainda está me aquecendo.


Quando estiquei a primeira
perna ela passou e retornou antes que esticasse a segunda. Mas na quarta volta
decidi pegar ela de cheio. A infeliz vinha voando para me massacrar de vez. Mas
quando chegou há uns 50 metros dei dois passos à frente e encostei as mãos com
firmeza no poste, foi quando me veio a grande ideia. Decidi firmar as duas mãos
no joelho direito e levantar a perna esquerda à altura do meu ombro tendo o
poste como apoio.


Planejei com calma e agi com
firmeza. Pus o pé na base que fica a cerca de 1,6m de altura. Não tive
dificuldade para levantar o pé o problema foi o solavanco que senti logo que
toquei a perna no poste. Era como se algo tivesse se descolado do corpo. Com o
pé lá em cima, a cabeça embaixo e uma terrível dor na região das genitálias, tive
que passar às mãos para conferir se havia restado alguma coisa por lá. Senti-me
profundamente aliviado com a constatação positiva.


Quando ela passou surgiu outro
problema. Para consegui baixar a perna tive que me jogar ao chão. Cair e não
consegui mais me erguer. Fui conduzido ao hospital e tive como diagnóstico
desligamento muscular na região central da coxa, luxação do nervo ciático e na
panturrilha e, rompimento do tendão de Aquiles. Como não entendo de medicina
perguntei ao médico o que significava tantos palavrões e ele me respondeu:

Popularmente diria que você está fodido!

O infeliz falou
e saiu morrendo de rir.


Depois dessa iniciei esta
campanha que agora compartilho com todos: “Não corra riscos, seja sedentário”.

A base dos argumentos que uso é
muito simples:
Alguém já ouviu falar de alguma
pessoa que torceu o joelho enquanto dormia, ou quando repousava numa rede?

Não se houve falar que alguém
torceu o tornozelo enquanto lia, ou assistia a um filme, ou comia um doce de goiaba
com creme de chantili.

Vai por mim: Não corra riscos,
seja sedentário.

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