GIBRAN AGRADECE

22 de abril de 1924
Minha amada Mary:
Espero de todo o meu coração, que tudo esteja
bem com você.
Quanto a mim, tudo corre como devia. Eu
trabalho um pouco todos os dias, fazendo algum desenho ou escrevendo algo em
árabe. Mas passo a maior parte do meu tempo andando para cima e para baixo
neste estúdio, sonhando e pensando com lugares distantes, ideias ainda envoltas
numa névoa que não consigo entender.
Às vezes eu sinto que já não tenho mais forma.
Parece que sou uma nuvem, prestes a transformar-se em chuva ou neve.
Você vê, Mary, começo a viver muito acima do
chão. No passado, eu era apenas uma raiz, e agora — que estou livre — já não
sei o que fazer com tanto ar, luz, e espaço. Já escutei histórias de pessoas
que passaram tanto tempo presas, que a primeira coisa que fazem ao sair da
cadeia é cometer um crime, porque se desacostumaram a viver em liberdade.
Espero não ter que voltar para a cadeia, Mary,
porque Deus é uma bênção. Que Ele encha o seu generoso coração com Sua luz
sagrada.
Mesmo com você distante, antes de dormir
sempre pego o meteorito que você me deu, e toco sua superfície; isto me dá consciência
dos milhares de anos e das imensas distancias.
Minha
adorada Mary
:
Que você seja abençoada para sempre, por tudo
de bom que me tem dado. Sempre que você conversa comigo, sinto uma dor
deliciosa em meu coração.
Você está sempre me apontando o topo de uma
montanha, e dizendo: “quando Kahlil chegará ali?” Cada vez que diz isto, eu
escuto por detrás de suas palavras, outra voz dizendo: “eu gostaria que Kahlil
chegasse ali amanhã”.
É bom saber que a montanha possui um topo.
Melhor ainda é ter certeza de que sua bem-amada o quer ver ali amanhã.
Minha vida é apenas um conjunto de notas
musicais que o seu coração transforma em melodia. Que sejamos sempre capazes de
viver tudo o que há de sagrado em cada instante,
Com todo o amor de Kahlil.

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