Primeiro dia
Zé Biruta chegou no Bar de Dona Noya com um semblante que dava dó. Em vez do balcão, como era de costume, escolheu a última mesa.
O semblante assustador chamou a atenção de Dona Noya que meio como quem não quer nada aproximou-se e perguntou ao seu estilo:
– Que diabo que tu tens, parece até que viu o Coiso?
-Como é que tu sabes?… Noinha do céu! Eu falei com o coiso! faz o sinal da cruz três vezes e volta a falar. Eu tô perdido Noynha! Me ajuda antes que seja tarde!
– Calma Zezinho! Nós vamos te ajudar
– Primeiro me conta o que aconteceu e depois eu prometo que vou te ajudar. – Fala olhando firme nos olhos cabisbaixo dele.
– Foi assim, Noynha: Eu saí daqui do bar direto pra minha casa. Tu sabes que faço isso a mais de trinta anos. Mas na sexta-feira dia 13, quando passava em frente ao cemitério o coiso apareceu. Quando faz referência dá uma rebolada no corpo como se tivesse levado um choque elétrico, ou sentido um grande calafrio.
Dona Noya percebe o estado de aflição do amigo e procura ajuda-lo.
– Então você viu o coiso?
– Vê eu não vi. Mas senti o cheiro de enxofre e de coisa queimando. – Noynha do céu, não era coisa desse mundo não! – Depois de falar exaltado cala e beija o crucifixo que carrega no pescoço.
– Me conta mais um pouco; – pediu ela com compaixão.
– Pois então. Eu ia passando, a meia noite, em frente ao cemitério quando ouvi um assobio bem fininho e longo. Pensa num assobio demorado. Fiquei todo arrepiado e parei para olhar de onde vinha. Estava ali parado quando o pior aconteceu. Faz uma pausa, benze-se e beija o crucifixo novamente e volta a se pronunciar:
– Seu eu te contar tu não vais acreditar, mas eu vou contar. – Ele falou comigo. Juro como a luz que me ilumina!
– O que ele disse?
– Ele perguntou: – Trouxe o bagulho mermão? Olhei para todo lado e não vi ninguém. Fiz o sinal da cruz, beijei o crucifixo e quando já ia saindo ele falou de novo.
– Eu sei que tu tens alguma coisa para mim. Não tente me enganar?
– Ele sabia Noynha. Quando disse que só tinha o dinheiro do aluguel ele disse que era esse mesmo o presente que estava esperando. – Como que ele sabia?
– Você deu o dinheiro do aluguel pra ele?
– Dei todinho.
– E agora o que vai fazer?
– Não sei, na verdade não quero nem pensar nisso.
– Ele disse pra eu levar o dinheiro da feira de amanhã e jogar por cima do muro. Disse que amanhã a meia noite em ponto estaria me esperando.
Dona Noya põe a mão em seu ombro e diz: – Entendi o que aconteceu. Se acontecer novamente me avise.