QUANDO EU FICAR VELHO

 

Quando eu ficar velho

Quero ter uma cadeira para sentar

Mas não por todo o restante da minha vida

Não para limitar minha mente

Nem para impor barreiras

Quero uma cadeira para sentar

E ler um bom livro

Para receber meus netos no colo

Para assistir a uma boa peça teatral

A um show de uma banda, ou de algum artista que gosto

Para apreciar uma refeição ao lado dos meus entes queridos

 

Quando eu ficar velho quero um óculo

Para ampliar o raio da visão que minha idade limitou

Para ver melhor o mundo que aprendi a sentir

Para não tropeçar à toa em objeto que já saltei

Para olhar nos olhos das pessoas que amo

E para poder agradecer por estar vivo em frente ao espelho

 

Quando eu ficar velho

Quero ter lucidez

Para poder sentir saudade dos bons momentos da vida que estou construindo

Para poder sentir emoção ao ver o riso das pessoas

Para ver meus filhos crescidos

Para poder sentir e acompanhar a magia da semente transformar-se em árvore através de um simples gesto de minhas mãos

Para sentir a paz diante do por do sol e agradecer por mais um dia e pela singeleza da noite que chega

 

Quando eu ficar velho

Quero amigos

Não importa suas idades

Mas quero alguns com a minha para podermos compartilhar a grande travessia que nos trouxe até aqui

Quero os adultos para que eu nunca me esqueça da responsabilidade de ser provedor de uma geração

Quero os jovens para que eu possa aprender a conviver com o medo e a ousadia e de vez enquanto perder o controle apenas por não querer controlar a direção que me mantem em curso

Quero as crianças para reaprender sentir a inocência que aos poucos volta a tomar conta de mim

 

Quando eu ficar velho

Quero poder ouvi

Será muito triste não ouvi a voz das pessoas que amo ao falarem comigo

Quero poder ouvi para que a música continue renascendo dentro de mim

Para saber que o vento continua cantando em cochicho para as árvores que se esbaldam pra lá e pra cá quanto mais intensidade impõe

Quero ouvi o que as ondas falam às areias em momentos de brandura e quando se arrebentam em fúrias intensas

Para sentir o prazer inenarrável da voz do meu filho ao me chamar de pai

 

Quando eu ficar velho

Quero poder agradecer por cada amanhecer e anoitecer

Por cada riso

Por cada palavra

Por cada tropeço

Por cada lágrima

Por cada coisa que aprendi da forma que naquele momento eu precisava

Por tudo que mesmo contra a minha vontade eu precisei aprender

Pelo discernimento de saber que a cada dia tenho a oportunidade de aprender um pouco mais sobre a indecifrável beleza da vida

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